segunda-feira, 9 de maio de 2011

A pedagogia de Freinet

Passou sua infância e juventude no meio rural, em meio às paisagens, modo de produção artesanal, comportamentos e valores dos homens do campo do início do século. Suas próprias condições de vida vieram mais tarde a influenciar sua pedagogia.
Os primeiros estudos feitos por Freinet foram numa escola comum, sem grandes recursos ou métodos pedagógicos.
Sempre aplicado como aluno, foi para uma cidade um pouco maior, Grasse, para complementar seus estudos e preparar-se para o concurso de ingresso na Escola Normal de Nice.

Está longe de ser um professor tradicional. Participa de estudos e pesquisas, viaja, debate, escreve artigos, sempre em busca de práticas pedagógicas alternativas.
Freinet, observador sensível, percebeu logo que a escola de sua época - severa, sombria e autoritária - era inadequada para os alunos e passou a procurar meios de efetuar a sintonização entre a escola e suas vidas.

Educação e trabalho
Para Freinet o trabalho é uma necessidade para a criança. Assim sendo, as crianças devem ser educadas pelo trabalho aproveitando-se a necessidade de ação, criação e conquista que cada criança tem. O trabalho é visto como um princípio que educa. Os alunos de Freinet participavam de diferentes ações e construções coletivas em prol da melhoria do ambiente escolar e comunitário. Além disso, eram envolvidos em atividades que incluíam impressoras, tipos de impressão, teares, oficinas de arte e artesanato e horta.

Avaliação
Adepto da avaliação contínua, Freinet se reunia com os alunos semanalmente para discutir, com eles, os conteúdos estudados, o que havia sido compreendido e as dificuldades de aprendizado. Elaborou um sistema de fichas auto-corretivas, através das quais os próprios alunos acompanhavam o seu desenvolvimento, se auto-avaliando.

O planejamento
Não sendo seguidor do espontaneísmo, Freinet planejava cuidadosamente suas atividades pedagógicas, esmiuçando os objetivos a serem alcançados. Saindo a passeio com os alunos, fixava os pontos essenciais que deveriam ser observados - vegetais, minerais, animais e as transformações sofridas pelo ambiente, sempre abrindo espaço para a elaboração de textos sobre o que havia sido visto.

A imprensa escolar e a correspondência
Através da imprensa escolar, os alunos elaboravam "jornais" cuja leitura era compartilhada por amigos e familiares. Através da correspondência inter-escolar, os alunos se correspondiam com outros alunos de escolas distantes, enviando fotos, desenhos, cartas, jornais. Foi assim que as crianças da montanha passaram a conhecer o mar, a pesca e os costumes de comunidades que viviam em aldeias marítimas. E estes, ficavam sabendo das colheitas, da vida dos pastores, dos tecelões, das histórias das comunidades do interior
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Livre expressão e seus suportes
A livre expressão é muito valorizada na Pedagogia Freinet. Nos ateliers de arte os alunos tinham oportunidade de exercitar a criatividade exprimindo seus sentimentos, emoções, impressões e reflexões. Os suportes para a livre expressão eram variados: a palavra oral e escrita, a música, a pintura, o teatro.
Freinet se utilizava de diferentes recursos: máquinas fotográficas, projetor de diapositivos, camêras, toca-discos.

Conclusão
Quem estuda a Pedagogia de Freinet e trabalha com ela diariamente percebe que se trata muito mais do que de uma simples proposta pedagógica - quase uma filosofia de vida. Nessa proposta, a criança é vista como um ser autônomo e que tem a capacidade de escolher, sob orientação e de acordo com seu próprio interesse, as atividades que serão desenvolvidas. Ela é vista também como um ser racional capaz de, desde muito cedo, opinar e fazer críticas sobre fatos ou assuntos que lhe são expostos.
Dessa forma, são dados a ela o direito e a oportunidade de raciocinar sobre tudo aquilo que lhe é proposto, e tudo passa a ser mais significativo.
O livre arbítrio também é respeitado entre as crianças, assim como suas escolhas e recusas, mas sempre analisando-se os motivos desta ou daquela decisão.
Para Freinet, assim como o adulto, toda criança já possui dentro de si uma consciência moral: cabe ao educador ajudá-la a desenvolver e aprimorar essa moral primitiva.
Quem conhece na prática o trabalho da pedagogia de Freinet pode presenciar um dos direitos do ser humano: o de ser respeitado e valorizado, ou seja, o direito de desenvolver a capacidade criativa e imaginativa que cada pessoa tem dentro de si. Geralmente, as crianças que crescem sob essa pedagogia são mais criativas e ousadas do que aquelas que são educadas sem que seus direitos humanos sejam respeitados.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Biografia:

Célestin Freinet nasceu em 1896 em Gars, povoado na região da Provença, sul da França. Foi pastor de rebanhos antes de começar a cursar o magistério. Lutou na Primeira Guerra Mundial em 1914, quando os gases tóxicos do campo de batalha afetaram seus pulmões para o resto da vida. Em 1920, começou a lecionar na aldeia de Bar-sur-Loup, onde pôs em prática alguns de seus principais experimentos, como a aula-passeio e o livro da vida. Em 1925, filiou-se ao Partido Comunista Francês. Dois anos depois, fundou a Cooperativa do Ensino Leigo, para desenvolvimento e intercâmbio de novos instrumentos pedagógicos. Em 1928, já casado com Élise Freinet (que se tornaria sua parceira e divulgadora), mudou-se para Saint-Paul de Vence, iniciando intensa atividade. Cinco anos depois, foi exonerado do cargo de professor. Em 1935, o casal Freinet construiu uma escola própria em Vence. Durante a Segunda Guerra, o educador foi preso e adoeceu num campo de concentração alemão. Libertado depois de um ano, aderiu à resistência francesa ao nazismo. Recobrada a paz, Freinet reorganizou a escola e a cooperativa em Vence. Em 1956, liderou a vitoriosa campanha 25 Alunos por Classe. No ano seguinte, os seguidores de Freinet fundaram a Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que hoje reúne educadores de cerca de 40 países. Freinet morreu em 1966.


Coerência num tempo de extremos

A medida da independência do pensamento de Freinet pode ser deduzida do fato de ele ter sido perseguido, ao longo da vida, por forças políticas de tendências totalmente opostas. Embora pacifista, o educador envolveu-se nas duas grandes guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945). O primeiro conflito ideológico de que participou, no entanto, se deu na cidade de Saint-Paul de Vence, habitada por uma comunidade conservadora, que reprovou seus métodos didáticos e conseguiu que fosse exonerado do cargo de professor, em 1933. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940, com a França ocupada pela Alemanha nazista, foi preso como subversivo, tanto por sua filiação ao Partido Comunista como por suas atividades inovadoras no campo pedagógico. Depois do fim da guerra, passou a ser chamado freqüentemente a colaborar com políticas oficiais e foi tachado de pensador burguês pela cúpula do PC, do qual se desligou na década de 1950. Pessoalmente, Freinet nunca abandonou sua crença no socialismo nem seus planos de colaborar para a criação de um ensino de caráter popular na França e em outros países. 


 (FOTO) Crianças na Paris ocupada, e  1940, lêem instruções sobre o uso de máscaras de gás: tempo de perseguições  ideológicas.






Para pensar 
A utilização de técnicas desenvolvidas por Freinet, em particular as aulas-passeio e os cantinhos temáticos na sala de aula, não significam por si só que o professor adotou uma prática freinetiana. É preciso lembrar que o educador francês criou tais recursos para atingir um objetivo maior, que é o despertar, nas crianças, de uma consciência de seu meio, incluindo os aspectos sociais, e de sua história. Quando você promove atividades em sua escola, costuma ter consciência de como elas se inserem num plano pedagógico mais amplo?